Um:
O homem da guitarra tem medo de uma corda.
Evita-a com insistência, faz contas
de cabeça - dórrémíssol - fala sozinho.
A guitarra do homem tem uma corda a menos.
Aflige-se sem desistência, é fá de si mesma,
toca baixinho.
O medo é a corda que nunca esteve,
a música que a corda dá.
Dois:
Todos os dias são terça-feira à noite,
em litígio com o sol,
no diligência.
Coimbra é um pedaço de luz no canto da mesa
e a mulher sentada que aguarda o fado.
É a conta certa de todos os dias,
matemática da noite de terça.
É hoje: Coimbra.
Cidade à noite, entre ruas apertadas na canção
e o recibo amarelo dos que pagam a manhã
com a música que lhes falta.
É a guitarra pousada sobre a mesa.
E a frase falsa,
poço de adjectivos que a prende aqui.
Se tivesse de escolher um único poema como sendo o "Meu Poema" escolhia este magnífico poema do meu amigo Sílvio..