segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"A vontade desmedida que o homem revela em ascender socialmente perturba qualquer ser racional"

A ascensão social e o desejo de ocupar lugares sociais de maior relevo sempre fizeram e continuarão a fazer parte da vontade do ser humano, atrevo-me até a dizer que todos nós em algum momento da nossa vida já sentiu esta vontade desmedida. Uns chegam mesmo a fazer de tudo para lá chegar, outros perturbados nem tentam, pensam pela sua própria cabeça e a sombra que reflecte os pensamentos alheios, parece pertencer a mundos diferentes. As crenças na ascensão social e no poder que isso pode acarretar tornam-se no suporte do carácter e não no suporte da alma ou do próprio espírito. Em alguns casos a vontade desmedida que assola o homem para uma ascensão social traduz-se numa luta entre Homens e sombras. Em que as sombras não podem vencer por a ascensão social só é possível através de um culto desmedido do saber parecer.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Relógio de vento


'i'll be your mirror, reflect what you are...'

tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
mas no tempo subjectivo
tu és ainda o meu relógio de vento
a minha máquina aceleradora de sangue
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?

isabel meyrelles

['o rosto deserto', edição bilíngue, 1966]

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Para Ti... The brown eyes


Abraça-me...
Deixa-me saborear o teu perfume!
Deixa-me sentir o teu calor!
Deixa-me ouvir as ondas do mar!
Ouve o bater do meu coração
Sente o sangue nas veias a correr
Não fales...
Não faças nada...
Deixa a tua alma sentir!
Nem que seja por escassos momentos
Quero sonhar...
Quero-te só para mim!
Agora...
Só preciso que me abraces
Na quietude da noite...
Sempre a noite, nossa companheira!
A confidente... desta cumplicidade
É bom te ter!

terça-feira, 11 de maio de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Utopia


Quando, numa Universidade, perguntaram a Galeano o que era a utopia, ele definiu-a como "o horizonte. Dás um passo e ela afasta-se na mesma medida. Dás dois passos e ela volta a afastar-se igual. E assim sucessivamente". "_ Então a utopia não serve para nada", disse um estudante. "_ Como não? Serve para caminhar!" disse Galeano.

terça-feira, 13 de abril de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010


"Amava-te também, cheio de medo, quando fixavas o olhar na distância, quando adivinhava que estavas muito longe de mim nos teus pensamentos. Amava-te com terror quando adivinhava os teus pensamentos e mais ainda quando não os adivinhava, meu Deus!"

Os Jardim da Memória, Orhan Pamuk

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ouvi dizer



Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade esta deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas...
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Para nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

K

"...a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
aqui há casas desertas. há cidades vazias. há lugares.

mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.

aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
teus lábios, sem os teus cabelos. fecho os olhos para te ver
e para não chorar."

José Luís Peixoto
Beijos K. Já tenho saudades..

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Antídoto

"Somos o medo. Conhecemos tantas histórias. Todos os amantes que olham pela janela e imaginam que se perderam para sempre. Todos os homens que, num quarto de hospital, abraçam os filhos. Todos os afogados que, pela última vez, levantam a cabeça fora de água. Todos os homens que escondem segredos. E tu? Escondes algum segredo? Não precisas de responder. Conhecemos a tua história. Vimos-te mesmo quando não nos vias. Vemos-te agora. Escondes algum segredo? Responde quando te olhares ao espelho. O teu rosto duplicado: o teu rosto e o teu rosto. Quando vires os teus olhos a verem-te, quando não souberes se tu és ou se o teu reflexo no espelho és tu, quando não conseguires distinguir-te de ti, olha para o fundo dessa pessoas que és e imagina o que aconteceria se todos soubessem aquilo que só tu sabes sobre ti. Nesse momento, estaremos contigo. Envolver-te-emos e estarás sozinho."
in, Antídoto, José Luís Peixoto